segunda-feira, 8 de março de 2010

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a enyreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa.

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